Bauermann antes de jogo entre Santos e Mirassol, pelo Paulistão

Revista vaza conversa de Bauermann com apostador e ameaça por não cumprir combinado

08/05/2023

As investigações de possível manipulação de jogos no futebol brasileiro ganharam contornos nesta segunda-feira (8) com a divulgação pela revista Veja de conversas entre Eduardo Bauermann, zagueiro do Santos, e um dos apostadores envolvidos com a quadrilha.

Na conversa, o zagueiro recebe uma bronca por não cumprir o combinado de levar um cartão amarelo no empate entre Santos e Avaí pelo Brasileirão de 2022.

O combinado, segundo a conversa, seria o defensor receber R$ 50 mil pare receber a punição, mas, depois de não cumprir o acordo, teria que cobrir as perdas do apostador, chegando a receber ameaças do mesmo.

Veja a transcrição completa da conversa

Eduardo Bauermann: “Mano, só me avisa antes se realmente vai dar para fazer, senão nem tomo cartão a toa, entende”.

Apostador: “Fica em paz, irmão. Vai dar certo. Nós sempre damos um jeito. Mano, se você falou para alguém (da) aposta, manda não apostar mais, demorou? Tamo junto, vamos para cima”.

Eduardo Bauermann: “Não, não, nem falei nada, mano… quem comentou que faria uma aposta também foi o Luiz Taveira (empresário do zagueiro), mas ele falou brincando.. acho que não iria fazer. Mas se alguém me chamar aqui para fazer vou cortar já”.

(Horas depois)

Apostador: “Truta, o que você fez da sua vida, mano? Qual a fita? Truta, você foi pago para fazer o que, mano???? Você vai pagar todo meu prejuízo, mano. E aí, truta?????”.

(Bauermann aceitou outra aposta depois de não cumprir a primeira em que seria expulso na partida contra o Botafogo. O jogador recebeu cartão vermelho somente depois do apito final, irritando mais uma vez o apostador)

Apostador: “Olha a p*** da m*** que você fez. Mano, por que você não fez a p*** que eu te falei? Mano, por que não tomou essa p*** no primeiro tempo? Por que não deu uma p*** de uma cotovelada? Mano, por que você não me escuta, mano? Você me f*** de novo mano. Mas dessa vez você vai resolver. Mano, você vai me pagar tudo. Eu te pedi, eu confiei em você, mano. E você me desonrou. De novo mano. Não estou acreditando nisso. Não deu certo porque você não escuta os outros. Era uma p*** de uma cotovelada, um tapa na cara do jogador. Só isso, você não fez mano, porque você não quis”.

Eduardo Bauermann: “Mano, de coração, não foi porque eu não quis, eu te juro! Senão não tinha tomado nem no final e teria inventado uma desculpa para você…”.

Apostador: “Pq você não deu uma cotovelada no cara???? O barato vai ficar louco para você”.

Eduardo Bauermann: “Mas estou correndo atrás para conseguir te pagar esses 800 mil que você falou”.

Apostador: “Cadê os 50 (mil) que eu já te mandei, mano?”.

Eduardo Bauermann: “Tá aqui, nem mexi nesse dinheiro”.

Apostador: “Já vê aí para já mandar esse dinheiro, mano”.

Veja abaixo quais são os jogos que estão sob investigação na Série A

  • Palmeiras x Juventude
  • Juventude x Fortaleza
  • Goiás x Juventude
  • Ceará x Cuiabá
  • Red Bull Bragantino x América-MG
  • Santos x Avaí
  • Botafogo x Santos
  • Palmeiras x Cuiabá

Quem são os jogadores suspeitos de manipulação no Brasileirão e Estaduais?

O Ministério Público não divulga nomes, mas Victor Ramos, ex-Vasco e Palmeiras, teve o celular apreendido. O atleta de 33 anos foi encontrado em sua casa nesta manhã, em Chapecó, e conduzido para prestar depoimento. No entanto, ele segue treinando normalmente.

Kevin Joel Lomónaco, zagueiro do Red Bull Bragantino é outro suspeito. Policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriram um mandato de busca na casa do atleta. A informação foi publicada pelo jornal “Em Pauta”.

De acordo com o “globoesporte.com”, o lateral-esquerdo Igor Cariús, do Sport, e o meia Gabriel Tota, ex-Juventude e atualmente no Ypiranga-RS, são alguns dos investigados.

Ainda segundo o MP de Goiás, os suspeitos vêm de diversas regiões do Brasil. Nesta terça, foram buscados:

  • Goiás – 1 atleta investigado
  • Rio Grande do Sul – 3 atletas investigados
  • Santa Catarina – 2 atletas investigados
  • Rio de Janeiro – 1 investigado (não atleta)
  • Pernambuco – 2 atletas investigados
  • São Paulo – 10 mandados de busca e apreensão e 3 prisões

Algum jogador de futebol foi preso?

Nenhum jogador preso, só pessoas envolvidas nos pedidos de manipulação. Foram três mandados de prisão em São Paulo, mas só para não atletas.

Foram apreendidas granadas de efeito moral em um mandado de prisão em São Paulo a armas de fogo em outro endereço, também em terras paulistas. Nesse local, houve também um flagrante de armas de fogo sem o devido registro.

Os atletas ou aliciadores podem ser indiciados via Estatuto do Torcedor e também podem responder por crime por lavagem de dinheiro, se for o caso. Segundo o Estatuto do Torcedor, a pena varia de 2 a 6 anos de prisão.

O que os jogadores faziam para manipular as partidas?

Os atletas e envolvidos suspeitos estão sendo investigados por manipulação da seguinte forma: receber cartões amarelo ou vermelho, cometer um pênalti, garantir uma derrota parcial no 1º tempo, número de escanteios, etc.

O que os clubes dos jogadores envolvidos disseram?

A Chapecoense e o Red Bull divulgaram notas sobre os jogadores investigados.

“O clube tem tolerância zero com qualquer atitude que possa ferir a idoneidade do esporte e vá contra os valores e dignidade de todos que vestem as cores do Red Bull Bragantino. Nos colocamos à disposição das autoridades durante a investigação e trataremos internamente a situação legal envolvendo o atleta”, disse o time de Bragança.

“A respeito da “Operação Penalidade Máxima” e do cumprimento do mandado relacionado à ela em Chapecó – envolvendo um jogador do clube – a agremiação alviverde reforça o seu apoio e, principalmente, a confiança na integridade profissional do atleta. Por fim, tendo em vista as investigações, o clube destaca o seu compromisso em colaborar totalmente com as autoridades e oferecer todo o suporte e informações necessárias na apuração e esclarecimento do caso”.

Quais são os próximos passos da investigação?

Segundo o MP de Goiás, agora as autoridades irão reunir o material angariado em 6 estados envolvidos, com dezenas de aparelhos eletrônicos apreendidos, analisanto tudo e realizando interrogatórios. Após analisar as provas, aí sim serão avaliados os próximos passos.

O que a Operação “Penalidade Máxima” investiga

A investigação da Operação “Penalidade Máxima” aponta que grupos criminosos convenciam jogadores, com propostas que iam até R$ 100 mil, a cometerem lances específicos em partidas e causassem o lucro de apostadores em sites do ramo.

Um jogador cooptado, por exemplo, teria a “função” de cometer um pênalti, receber um cartão ou até mesmo colaborar para a construção do resultado da partida – normalmente uma derrota de sua equipe.

As primeiras denúncias ouvidas pela operação surgiram no fim de 2022, quando o volante Romário, então jogador do Vila Nova (GO), aceitou R$ 150 mil para cometer um pênalti contra o Sport, em partida válida pela Série B do Brasileiro.

Na ocasião, o atleta embolsou R$ 10 mil imediatamente e só ganharia o restante caso o plano funcionasse. Romário, porém, sequer foi relacionado para a partida, o que estragou a ideia.

A história chegou até Hugo Jorge Bravo, presidente do time goiano e também policial militar, que buscou provas e as entregou ao Ministério Público do estado. A partir daí, criou-se a operação “Penalidade Máxima” para investigar provas e suspeitas sobre o assunto.

Na primeira denúncia, havia a suspeita de manipulação em três jogos da Série B, mas os últimos acontecimentos levaram os investigadores a crer que o problema era de âmbito nacional e havia acontecido em campeonatos estaduais e também na primeira divisão do Brasileiro.

Além de Romário, outros sete jogadores foram denunciados pelo Ministério Público por participarem do esquema de fabricação de resultados: Joseph (Tombense), Mateusinho (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa), André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Ituano), Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã) e Paulo Sérgio (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário-PR).